4 semanas atrás
Resíduos de suco de laranja viram bioplástico resistente e apontam nova rota para embalagens ecológicas

A poluição plástica é um dos maiores desafios ambientais da atualidade, segundo a OMS. Para enfrentá-la, o pesquisador Pedro Henrique Bezerra, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP (FZEA-USP), desenvolveu biofilmes biodegradáveis a partir de subprodutos do suco de laranja, como cascas, sementes e bagaço. O projeto propõe uma alternativa ecológica para a indústria de embalagens e reforça o conceito de economia circular.
O material utilizado, chamado OBP (Orange By-product Powder), foi obtido de um comércio local e passou por processos de higienização, secagem e moagem. Incorporado a filmes de alginato de sódio — um biopolímero natural — o OBP resultou em biofilmes mais espessos, resistentes e hidrofóbicos, com menor transmitância de luz e maior estabilidade estrutural.
A microscopia revelou estruturas globulares e fibrosas no pó e nos filmes, o que pode ter contribuído para a melhoria das propriedades mecânicas. No entanto, análises químicas detectaram dois pesticidas acima do limite permitido, indicando a necessidade de estudos futuros para garantir a segurança do uso em embalagens alimentícias.
Apesar do potencial, os biofilmes ainda enfrentam limitações técnicas, como a hidrofilicidade — tendência de absorver água — que dificulta o uso em produtos úmidos. Estratégias como o uso de ceras naturais, ácidos orgânicos e plastificantes hidrofóbicos estão sendo estudadas para superar esse obstáculo.
A professora Fernanda Vanin, orientadora do projeto, destaca que a adoção de bioplásticos exige mudanças estruturais na indústria, que hoje opera com materiais convencionais. A transição para práticas mais ecológicas demanda investimento e adaptação tecnológica.
O Brasil, maior exportador mundial de suco de laranja, tem grande potencial para reaproveitar seus resíduos. Atualmente usados como ração ou fertilizante, esses subprodutos podem ganhar novo valor com aplicações sustentáveis. A pesquisa da USP mostra que é possível transformar o que seria descartado em soluções inovadoras para reduzir a poluição plástica e fortalecer a economia circular.
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