2 meses atrás
Nova estação Tara mergulha no gelo e inaugura uma nova era de pesquisa no Ártico

Nas geleiras do Ártico, uma embarcação de aparência futurista desliza silenciosamente entre os blocos de gelo — parece saída de um filme de ficção científica, mas é bem real. É a Estação Polar Tara, um laboratório flutuante de última geração que chegou para revolucionar os estudos científicos no Polo Norte pelas próximas duas décadas.
Construída na França ao longo de 18 meses, a Tara está equipada para enfrentar o frio extremo de até -52°C e o aperto causado pelas placas de gelo em constante movimento. Diferente dos navios que só visitam o Ártico no verão, ela vai ficar lá por mais de um ano por missão, literalmente presa no gelo e coletando dados o tempo inteiro. A primeira expedição, chamada Tara Polaris I, está marcada para setembro de 2026.
O design é coisa de cinema: casco ovalado com 20 mm de espessura, seguindo padrões internacionais de resistência para navegar em águas polares. No meio da estação, tem um moonpool — um buraco que dá acesso direto ao oceano debaixo do gelo, onde os cientistas podem instalar equipamentos ou fazer pesquisas sem precisar encarar a superfície congelada.
Durante o verão, até 18 pessoas vão viver por lá — entre pesquisadores, marinheiros, artistas e jornalistas. No inverno, esse número cai para 12 para economizar energia e suprimentos. Mesmo no breu total da noite polar, que dura até seis meses, o espaço foi planejado para continuar funcionando perfeitamente. O mastro central reúne os sistemas de comunicação, e toda a estação tem autonomia para ficar 500 dias sem reabastecimento, com backups prontos para qualquer emergência.
Com 10 grandes expedições programadas ao longo das duas próximas décadas, a ideia é acompanhar as mudanças do Ártico estação por estação, registrando tudo. Esse esforço envolve instituições renomadas como o CNRS, a Universidade de Maine e a Université Laval, que querem entender melhor desde o aparecimento de fitoplâncton sob o gelo até a chegada de águas quentes do Atlântico que podem estar alterando o equilíbrio da região.
Pela primeira vez, cientistas poderão fazer experimentos ali mesmo, no meio do Ártico, em tempo real. O oceanógrafo Benjamin Rabe quer saber se nutrientes vindos do Estreito de Fram estão alimentando algas microscópicas no meio do Oceano Ártico — informação valiosa para melhorar modelos climáticos e ajudar a tomar decisões sérias para o futuro do planeta.
O plano é repetir essas observações todos os anos, ao longo dos mesmos trajetos, e montar um banco de dados único para acompanhar de perto as mudanças que afetam uma das regiões mais sensíveis e estratégicas do planeta. E assim, com tecnologia de ponta e muita coragem, a Tara se transforma no novo sentinela do Ártico.
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