4 semanas atrás
Mudanças climáticas ameaçam aquíferos de MS com queda de até 28% na recarga hídrica

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) alertam para uma possível redução significativa na recarga de água dos aquíferos em Mato Grosso do Sul nas próximas décadas. O sistema Bauru-Caiuá aparece como o mais vulnerável, podendo registrar uma queda de até 27,94% no volume anual de reposição hídrica — o equivalente a cerca de 666 mm a menos por ano nas áreas mais afetadas.
Utilizando projeções baseadas no modelo climático CMIP6, o estudo analisou dois cenários distintos — um mais brando e outro mais severo — com início em 2025 e estimativas até o final do século. Os resultados indicam que os impactos serão especialmente intensos em regiões que dependem fortemente da água subterrânea para abastecimento.
Além do Bauru-Caiuá, o sistema Guarani também deve enfrentar perdas consideráveis, com redução variando entre 7,79% e 21,88%, dependendo do cenário climático. As formações geológicas de Furnas, Ponta Grossa e Serra Geral, todas presentes no território sul-mato-grossense, também foram incluídas na análise por sua relevância estratégica.
Segundo o Mapa Hidrogeológico do Estado, o aquífero Caiuá é o maior em extensão, cobrindo mais de 119 mil km², seguido pelo Serra Geral e pelo Guarani. Essas reservas estão distribuídas por áreas densamente habitadas, como Dourados e Campo Grande, o que aumenta a preocupação com a segurança hídrica da população.
Esses sistemas subterrâneos são essenciais para o fornecimento de água no Brasil, atendendo cerca de 112 milhões de pessoas. O geólogo Ricardo Hirata, um dos autores do estudo, ressalta que os aquíferos demonstraram maior resistência durante períodos de seca, como na crise hídrica entre 2014 e 2016, quando cidades abastecidas por essas fontes foram menos impactadas.
Como medida de adaptação, os pesquisadores recomendam a implementação da técnica de recarga manejada de aquíferos (MAR), que consiste em favorecer a infiltração de água da chuva ou esgoto tratado no subsolo. Essa prática pode ser realizada com soluções simples, como bacias de infiltração, ou sistemas mais sofisticados de injeção direta — já adotados em cidades como Madri. O solo funciona como um filtro natural, contribuindo para a qualidade da água recarregada.
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