5 dias atrás
Inteligência Artificial na medicina brasileira

A Inteligência Artificial (IA) está emergindo como uma das grandes revoluções tecnológicas contemporâneas, especialmente no campo da saúde, onde promete transformar diagnósticos, tratamentos e a relação médico-paciente. Segundo Raphael Einsfeld, coordenador do curso de Medicina do Centro Universitário São Camilo, vivemos a "revolução cognitiva", marcada pelo uso do conhecimento como base, sendo a IA uma ferramenta crucial para acessar e processar informações com maior agilidade. No entanto, no Brasil, a adoção da IA na medicina ainda é limitada por barreiras como a ausência de regulamentação e a escassez de profissionais capacitados.
Globalmente, o avanço da IA na saúde é evidente. De acordo com a IDC, 79% das organizações de saúde já utilizam algum recurso de IA, e a Precedence Research projeta que esse mercado alcançará US$ 187 bilhões até 2030. Em países com carência de profissionais da saúde, como Tailândia e Brasil, startups japonesas, como a Lpixel, estão introduzindo tecnologias para apoiar o diagnóstico de doenças como tuberculose. Esses projetos-piloto, em cooperação com a Organização de Comércio Exterior do Japão, visam expandir o acesso a tecnologias médicas avançadas em regiões menos assistidas.
No Brasil, o Conselho Federal de Medicina iniciou recentemente uma pesquisa para mapear o uso da IA na prática médica. Enquanto os resultados ainda não foram divulgados, outras iniciativas começam a ganhar corpo. O uso de prontuários eletrônicos inteligentes, por exemplo, está reduzindo erros em prescrições e tornando a burocracia médica mais eficiente. A IA também atua como assistente virtual para pacientes, respondendo dúvidas, monitorando a recuperação e auxiliando no controle de doenças crônicas — embora ainda haja riscos de informações imprecisas que exigem supervisão profissional.
A regulamentação da IA na medicina brasileira ainda está em desenvolvimento. Atualmente, não há um órgão regulador específico para a aplicação da tecnologia nesse setor. Segundo Rodolpho de Carvalho, professor da UNICAMP, a IA tem potencial para ampliar a atuação médica, mas não substituí-la, dado que os médicos continuam legalmente responsáveis por suas decisões. Para ele, a IA é uma ferramenta de apoio que melhora a produtividade, mas não alcança a complexidade da prática médica, que envolve fatores sociais, comportamentais e relacionais com o paciente.
Carvalho também destaca a desigualdade no acesso à saúde no Brasil, com maior concentração de especialistas nas grandes cidades. Para ele, a IA pode contribuir para democratizar esse acesso, desde que haja capacitação adequada dos profissionais. O professor alerta para a necessidade de atenção às normas legais e de segurança, enfatizando que a adoção da tecnologia deve respeitar limites éticos e operacionais. O projeto de lei em tramitação no Senado e a Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial (EBIA) são passos importantes, embora ainda tímidos, para incentivar investimentos e reduzir desigualdades.
João Paulo Papa, pesquisador da Unesp, ressalta que os investimentos em IA na saúde brasileira variam conforme o poder aquisitivo dos hospitais. Ele observa que ferramentas como o ChatGPT estão sendo testadas, mas requerem customizações específicas para serem eficazes a longo prazo. A Unicamp, por exemplo, já desenvolve projetos em hospitais universitários com sistemas de apoio à decisão clínica. Outros centros, como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, também adotam sistemas informatizados como base para soluções de IA voltadas à melhoria do diagnóstico e da gestão hospitalar.
Por fim, projetos acadêmicos e corporativos vêm sendo desenvolvidos em paralelo. Einsfeld aponta que novas publicações científicas geradas por IA estão auxiliando decisões clínicas com maior precisão. Na Universidade São Camilo, Denis Rodrigo de Lima relata iniciativas voltadas à administração em saúde, como o desenvolvimento de um ambiente virtual de aprendizagem com linguagem natural, em parceria com a Microsoft. A instituição também investe em bancos de questões inteligentes e projetos de análise contratual. Essas iniciativas indicam que, apesar dos desafios, o Brasil começa a integrar a IA em diversas frentes da saúde e da educação médica.
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