2 semanas atrás
Fogo Eterno no Deserto: A cratera de Darvaza e o legado incandescente da Guerra Fria

No meio do deserto de Karakum, no Turcomenistão, uma cratera em chamas fascina o mundo há mais de 50 anos. Conhecida como “Portões do Inferno”, a cratera de Darvaza surgiu em 1971 por um erro durante uma perfuração soviética em busca de gás natural. O que era para ser uma operação rotineira se transformou em um fenômeno geológico impressionante, resultado direto da exploração energética na época da Guerra Fria.
Durante a escavação, os geólogos soviéticos encontraram uma enorme caverna subterrânea instável, cheia de gás natural, que colapsou após a perfuração, formando um buraco de 70 metros de diâmetro e cerca de 30 metros de profundidade. Parte do equipamento foi engolido e, com receio de vazamento de gases tóxicos, os cientistas optaram por atear fogo à cratera, acreditando que o gás se extinguiria em poucos dias.
O que não se previa era a vastidão dos bolsões de gás natural sob o solo da bacia de Amu-Darya, uma das maiores da Ásia Central. Em vez de durar dias, o fogo segue aceso por décadas, tornando-se um espetáculo visual surreal. À noite, as chamas iluminam o deserto como uma tocha permanente, alimentadas principalmente por metano que escapa das fissuras no solo e entra em combustão espontânea.
Com o tempo, a cratera passou de desastre ambiental a atração turística inusitada. Apesar da rigidez do regime político local, turistas e aventureiros são atraídos pelo misticismo e pelo impacto visual do fenômeno. Ainda assim, as emissões constantes de metano — um potente gás de efeito estufa — geram críticas e preocupações ecológicas há anos.
Em 2022, o governo do Turcomenistão declarou intenção de apagar as chamas para aproveitar o gás de forma energética. No entanto, os desafios técnicos da operação, somados ao risco de explosões e à instabilidade do terreno, adiaram indefinidamente os planos. Embora as medições mais recentes indiquem diminuição das chamas, o fogo continua ativo, sinalizando que ainda há combustível no subsolo.
Curiosamente, o ambiente ao redor da cratera também guarda segredos. Observadores relataram a presença de aranhas que vivem nas bordas do buraco, aproveitando a luz e o calor noturnos para atrair presas. Apesar dos relatos, ainda não existem estudos científicos conclusivos sobre essa adaptação, o que desperta ainda mais interesse entre biólogos e exploradores.
A cratera de Darvaza é mais do que um acidente geológico: tornou-se um símbolo da imprudência humana diante dos recursos naturais, além de uma maravilha inesperada da persistência do fogo e da natureza. Observada por satélites e turistas, ela mistura fascínio visual, mistério científico e alerta ecológico — e, por enquanto, continua queimando, como se quisesse contar a própria história.
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