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10/05/2023 17h45min - Esporte
2 anos atrás

"Brasil não entendeu a gravidade do problema", diz especialista sobre escândalos de manipulação

Tiago Horta, estudioso do tema e membro de comitês de integridade do COB e da Federação Paulista, diz que crimes chegaram à Série A pela falta de ação de autoridades e dirigentes

Imagem divulgação: Grande FM 92,1 ► 
Fonte: Fonte Grande FM



Infelizmente ainda teremos que lidar com muitos escândalos, alguns de proporções até maiores do que o atual, para conseguirmos mudar o cenário em que nos encontramos. 

O autor da frase é Tiago Horta, membro do Comitê de Defesa do Jogo Limpo do COB e dos comitês de integridade da Federação Paulista de Futebol e da Federação Internacional de Tênis de Mesa. Estudioso do assunto, Tiago concedeu a seguinte entrevista por e-mail ao ge, na qual lamenta a falta de ações de autoridades, entidades e de uma regulamentação para o mercado de apostas.

Os esquemas de manipulação normalmente ficavam restritos a divisões inferiores ou campeonatos pouco vistos. Agora chegaram à Série A. Por que isso aconteceu?

– Quanto mais importante um jogo de futebol, maior a liquidez, mais dinheiro pode ser movimentado nos mercados. Isso é importante porque quanto mais dinheiro nos mercados, maiores são também os aportes que os manipuladores poderão fazer para tentar maximizar seus lucros sem que as fraudes sejam percebidas. Jogos de categorias de base e divisões inferiores, embora sejam oferecidos pela maioria das casas de apostas, não possuem grande liquidez e isso limita o potencial de ganhos com as manipulações. Em geral, não dá pra aportar muito dinheiro num jogo desses porque a fraude acabaria sendo detectada facilmente. Já em partidas da Série A, como os valores movimentados nos mercados são muito maiores, é mais fácil para o manipulador fazer com que seus aportes destinados à prática da fraude passem despercebidos dos mecanismos de controle e detecção. Consequentemente, aumenta a possibilidade de alcançarem lucros maiores.

– A isso que falei, soma-se também um outro fator: a incapacidade demonstrada até agora, no Brasil, para se entender a real dimensão do que está acontecendo e para lidar com a situação toda envolvendo as manipulações de forma séria e estruturada. É notório que nos últimos cinco anos os casos de manipulação de resultados passaram a ocorrer cada vez com mais frequência por aqui, mas, a despeito disso, muito pouco foi feito para se combater o problema. E um futebol sem escudos de proteção será sempre uma porta aberta à ação de manipuladores. Foi assim em outros países e está sendo assim no Brasil. Os manipuladores são indivíduos ousados e inteligentes. Desde que começaram a agir por aqui, há vários anos, eles vêm testando nossa forma de lidar com o tema. Na medida em que percebem nossas fraquezas, se sentem mais confiantes para irem subindo de divisão degrau por degrau. Começaram lá na Série D, agora já estão na Série A, infelizmente.

Existe algum país que tenha feito um trabalho de combate a este problema e possa servir de exemplo para o Brasil?

– Alemanha e Espanha. Não somente no que se refere ao combate, mas também em relação à prevenção do problema. Esses dois países passaram por situações bastante traumáticas ainda na década de 2000, mas desde então têm se empenhado muito para solidificar seus sistemas de integridade. Desenvolvem trabalhos permanentes na área de educação de atletas, árbitros e dirigentes. Todos esses atores são alertados sobre os riscos do envolvimento com a manipulação de resultados e orientados sobre protocolos a serem observados no caso de eventual abordagem de aliciadores. Também o combate ao problema é realizado de forma efetiva e se dá por meio da colaboração entre agentes públicos de segurança, autoridades esportivas e entes privados (empresas de monitoramento e associações de casas de apostas), os quais trocam informações constantemente em nome da preservação da integridade no esporte.

Fonte: GE



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